Sistema Solar pode ter planeta oculto, diz brasileiro
JC e-mail 3461, de 03 de Março de 2008.
Cálculos que indicam a presença do novo astro foram feitos no Japão; previsão ainda precisa ser comprovada por observação real
Felipe Maia escreve para a "Folha de SP":
Um brasileiro de 31 anos encontrou indícios da existência de um novo planeta nos confins do Sistema Solar.
Patryk Sofia Lykawka, da Universidade de Kobe, Japão, poderá ser o responsável por fazer com que o Sistema Solar volte a ter nove planetas, condição que foi perdida com o rebaixamento de Plutão, em 2006.
"Sempre me interessei pelo desconhecido. Gostava de ler, tentar imaginar quais seriam as soluções para as perguntas sem resposta", disse, por telefone, de Kobe, no oeste do país.
Por enquanto, a possível descoberta de Lykawka está restrita a cálculos e simulações feitas por computador, mas ele espera que o planeta possa ser visualizado em cinco a dez anos.
A expectativa do pesquisador é que o projeto Pan-Starrs, da Universidade do Havaí (EUA), que vai varrer grande parte do céu no hemisfério Norte, permita a visualização do planeta. O experimento vai fotografar o céu visível do Havaí pelo menos uma vez por semana.
A teoria apresentada pelo brasileiro é resultado de estudos sobre o cinturão de Kuiper, uma zona que fica além de Netuno e abriga milhares de corpos celestes, como Plutão e o planeta-anão Eris, cuja descoberta acabou causando a perda de status do nono planeta.
Ela também é o berço de alguns cometas. Apesar de ser bastante estudada, por conta de suas bizarrices astronômicas, a área ainda é pouco conhecida.
Além disso, ela abriga mistérios. Em um determinado espaço, por exemplo, há vários corpos celestes com órbitas praticamente circulares. Mas, a partir de um limite, o número de astros com órbita desse tipo se reduz, sem causa aparente.
Outro fato que intriga os pesquisadores é a existência de órbitas muito inclinadas no cinturão, às vezes em ângulos da ordem de 50 em relação ao plano dos planetas.
Para resolver alguns desses mistérios do cinturão de Kuiper é que Lykawka propõe a existência de um novo planeta, que perturbaria as características das órbitas.
"Essa estrutura [de Kuiper] é complexa, difícil de explicar se você se baseia apenas nos oito planetas", disse o pesquisador.
A diferença entre o estudo de Lykawka e anteriores foi o fato de ele não ter se restringido apenas às configurações atuais do Universo. Nas simulações por computador, ele fez uma espécie de filme do Sistema Solar, calculando as posições e a velocidade dos objetos durante os últimos 4,3 bilhões de anos.
"É como voltar no tempo e tentar reproduzir o que aconteceu." O estudo do brasileiro será publicado em abril na revista "Astronomical Journal".
As contas do astrônomo indicam que o planeta deve ter massa equivalente a 30% a 70% a da Terra e uma órbita entre 14,9 bilhões e 25,4 bilhões de quilômetros -a Terra está a cerca de 150 milhões de quilômetros de distância do Sol.
Ele imagina que o local tenha rochas nas regiões internas, com a superfície coberta de gelo, amônia congelada e metano.
Comprovação
Apesar de a teoria funcionar em simulações e cálculos, ainda é necessário que o planeta seja efetivamente observado.
"Definitivamente é apenas uma sugestão, não uma descoberta. Nós nunca saberemos se essa sugestão está correta até que alguém de fato encontre o planeta", afirma o astrônomo norte-americano Mike Brown, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), especialista nessa área do espaço. Brown foi um dos descobridores de Eris -achado que deu fôlego à discussão sobre o rebaixamento de Plutão, em 2006.
O pesquisador brasileiro agora quer refinar seus modelos e simulações, para chegar a "previsões mais realistas".
Ele está à espera de algum telescópio que consiga comprovar sua teoria. Caso isso ocorra, a expectativa é que o planeta leve o nome de algo relacionado à cultura indígena do Brasil.
Astrônomo fazia músicas para games
Duas das atividades que mais ocuparam tempo na vida do astrônomo Patryk Lykawka, 31, foram a ciência e a música. Entre 1991 e 2001, foi também compositor e fez até a trilha sonora de um game, o Guimo. "Era só uma diversão", diz. "Desde que vim para o Japão não deu mais tempo."
O cientista brasileiro tem ascendência italiana e polonesa e trabalha hoje na Univesidade de Kobe (Japão). No Brasil, formou-se em matemática e física na Universidade do Vale dos Sinos, de São Leopoldo (RS). Emigrou ao ganhar uma bolsa de mestrado do governo japonês.
Hoje, Lykawka é casado com uma japonesa e diz já ter superado a maior barreira: a da língua. "As aulas do mestrado e do doutorado eram em japonês", lembra. "Tinha hora em que eu não sabia o que era conta ou letra." (Folha de SP, 1º/3) http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=54622
Nenhum comentário:
Postar um comentário