quarta-feira, maio 14, 2008

Os brasileiros e a ciencia

JC e-mail 3450, de 15 de Fevereiro de 2008.

O interesse por assuntos de ciência e tecnologia entre os brasileiros, texto de Ildeu de Castro Moreira

“Pesquisa mostrou que os brasileiros, segundo eles mesmos, têm um bom nível de interesse por assuntos de C&T: 41% disseram ter muito interesse, 35% têm pouco interesse e 23% nenhum interesse”

Texto de Ildeu de Castro Moreira, diretor do Depto. de Popularização e Difusão da C&T/Secis/MCT:

O JC e-mail, edição 3446 do dia 11 de fevereiro de 2008, publicou a matéria “Sem divulgação não há participação” com base em texto proveniente da “Agência Fapesp”.

Na abertura da matéria se dá destaque ao suposto resultado de pesquisa comparativa que mostraria que o interesse dos brasileiros por temas de C&T seria o menor entre os países ibero-americanos: “Brasil tem pior índice de interesse por ciência entre países ibero-americanos, segundo dados da Ricyt apresentados em congresso na Espanha”.

No corpo da matéria a origem da informação é atribuída a um pesquisador da área: “A importância da preocupação com a divulgação científica foi ressaltada nos dados apresentados por Carmelo Polino, pesquisador da Rede Ibero-americana de Ciência e Tecnologia, (Ricyt), da Argentina, segundo os quais o Brasil tem o pior índice de interesse por ciência entre os países ibero-americanos”.

Esta informação está, no entanto, incorreta, o que pode conduzir a interpretações e comparações distorcidas dos resultados provenientes de pesquisas realizadas em percepção pública da C&T no Brasil, em São Paulo e em outros países.

Os resultados apresentados na matéria baseiam-se em recente Encuesta Iberoamericana, promovida com o apoio da Ricyt, OEI, Fapesp, Fecyt e outros organismos dos países envolvidos. Nela foram computados e comparados resultados de uma mesma enquete feita em sete grandes cidades de países ibero-americanos: São Paulo (Brasil), Bogotá (Colômbia), Buenos Aires (Argentina), Caracas (Venezuela), Madrid (Espanha), Ciudad de Panamá (Panamá) e Santiago (Chile).

Portanto, os dados da pesquisa se referem à cidade de São Paulo e não ao Brasil, fazendo com que a extensão dos resultados para o quadro nacional seja improcedente.

Mas, mesmo que se analise o resultado da cidade de São Paulo, a informação está também incorreta: segundo a pesquisa mencionada os paulistanos não têm o pior índice de interesse por temas de C&T [e não só de ciência, como menciona a matéria] entre as cidades analisadas; estão à frente de Santiago e empatados tecnicamente com Madrid, se for considerada a soma das pessoas que se dizem muito interessadas ou bastante interessadas por temas de C&T. Santiago tem aproximadamente 59%, SP cerca de 65% e Madrid aproximadamente 68%. [Dados da apresentação sobre a enquete mencionada, feita por Carmelo Polino e José Antonio López Cerezo, no IV Congresso Ibero-americano Ciudadania y Políticas Públicas em Ciencia y Tecnología, Madrid, 8 de fevereiro de 2008]

No momento atual não temos dados para uma comparação sequer razoável do interesse por C&T nas enquetes nacionais de países ibero-americanos. Poucos países realizaram pesquisas nacionais deste tipo, entre os que fizeram alguns não inquiriram sobre o interesse das pessoas por C&T e, entre os raros que fizeram este tipo de questão, ela exibe em geral formatos diferentes dificultando a comparação.

Vamos, no entanto, mencionar o caso do Brasil e da Espanha que permite algum grau de comparação qualitativa. A pesquisa nacional foi realizada em finais de 2006, com brasileiros com mais de 16 anos, tendo sido promovida pelo MCT em parceria com a ABC, coordenada pelo MCT e pelo Museu da Vida/Fiocruz, e teve a colaboração do LabJor/Unicamp e da Fapesp.

Ela mostrou que os brasileiros, segundo eles mesmos, têm um bom nível de interesse por assuntos de C&T: 41% disseram ter muito interesse, 35% têm pouco interesse e 23% nenhum interesse.

Para comparação, os números para Esportes são: 47% (muito interesse), 31% (pouco interesse) e 22% (nenhum interesse); e para Arte e Cultura (38, 40 e 22%, respectivamente). O tema que mais interessa aos brasileiros é o de Medicina e Saúde (60, 31 e 9%) seguido pelo de Meio-ambiente (58, 32 e 10%). Em último lugar ficou Política (20, 44 e 36%).

Para comparação, embora as questões tenham sido apresentadas de modo diferente, os espanhóis responderam, na Tercera Encuesta Nacional de la Percepción Social de la Ciencia y la Tecnologia, organizada pela FECYT em 2006, a uma questão similar.

No entanto, eles deveriam indicar seu grau de interesse por meio de um índice que variava de 1 a 5. O resultado foi: Medicina e Saúde (3,6); Alimentação e Consumo (3,5); Meio-Ambiente e Ecologia (3,5); Cinema, Arte e cultura (3,3); Esportes (3,1); C&T (2,9);... Política (2,3).

Note que nestas pesquisas pode ser mais interessante e informativo o grau de interesse relativo entre os diversos assuntos. A pesquisa nacional realizada recentemente na Argentina não questionou o grau de interesse em C&T, limitando-se a investigar o nível de informação e consumo declarado pelos entrevistados em temas de C&T.

Outras incorreções de menor importância estão presentes na matéria do dia 11 de fevereiro. Menciono apenas uma: afirma-se que “no caso brasileiro (na cidade de São Paulo) 35% dos entrevistados revelaram não se interessar por ciência por não compreender os textos de conteúdo científico”.

A questão, utilizada na Encuesta Iberoamericana - cuja formulação, aliás, não me parece muito adequada - não permite esta conclusão porque aborda o tema da informação e não o assunto interesse, além de não se referir a “textos de conteúdo científico”.

Ela inquiria, para aqueles que haviam se declarado “pouco” ou “nada” informados em temas de C&T: “você se declarou pouco ou nada informado em temas de C&T. Por quê?” Na resposta dada, na qual São Paulo se apresenta empatada com Santiago dentro da margem de erro, 35% dos paulistanos declararam que “não entendem”.

Evidentemente, apesar de algumas falhas da matéria, que devem ser corrigidas para que não sejamos conduzidos a interpretações não condizentes com os dados, ela aborda um tema relevante e que merece mais destaque no país, bem como registra as observações pertinentes, feitas pelo professor Carlos Vogt em sua conferência em Madrid, sobre a importância da divulgação científica – e eu acrescentaria da educação científica de qualidade – para a melhoria do cenário brasileiro e ibero-americano.

Deve ser registrada a importância da continuidade das pesquisas de percepção pública da C&T realizadas ou apoiadas tanto em nível nacional, pelo MCT e CNPq, como em São Paulo, pela Fapesp.

Seria importante que o apoio continuado da Fapesp a este tipo de investigação fosse seguido por outras FAPs para que possamos aprimorar nossas políticas públicas em educação científica e em comunicação pública da ciência.

A próxima enquete nacional brasileira, a ser feita dentro de um ano aproximadamente, possivelmente incorporará algumas questões comuns de enquetes ibero-americanas para possibilitar comparações, como foi possível fazer na pesquisa com as cidades mencionadas.

Embora não se trate de uma tarefa fácil chegar a um consenso, entre grupos e organismos dos diversos países, sobre um núcleo de algumas questões comuns, isto será importante para a construção de indicadores que possibilitem comparações bem fundamentadas.

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=54273

Um comentário:

Anônimo disse...

AI ADOREI AS CANTADAS,BM ORIGINAIS
KKKKKKKK!!!!
TDOLL A V COM OS NERDS

BM LOKO ESSI BLOG .....

by: Cinthinha